Olhos fixos no vazio do pensamento
buscando algo, sem saber se existe;
na solidão fria, o amargo relento
e a esperança que ainda resiste.
O terminar de uma angústia dorida
desse silêncio longo que ensurdece;
a falsa alegria na face escorrida,
que todos os dias, viva permanece.
Conviver num mundo fraco e doente,
aficionado da mentira constante;
na inocência não controla a mente
e dia-a-dia faz-se mais ignorante.
Uma sociedade carregada de cobrança,
onde o mais fraco não tem espaço.
Olhos tristes na imagem de criança
abatida e vencida pelo cansaço.
Por instinto, não desiste dessa luta...
Há uma luz que insiste em brilhar;
alma armada, decidida na labuta,
mais madura para a glória conquistar.
Como fonte de energia, tem a verdade...
Como fio da navalha, basta a coragem...
Da palavra, vira o bem contra a maldade;
de atitudes, vai moldando a sua imagem.
Parece fácil cada verso aqui escrito;
em cada um, cicatrizes de lamentos.
Pudesse converter a poesia num grito
que deixasse livre os meus rebentos.
Volta-se o olhar ainda vazio e triste
E no relento, e só, o amargor domina;
sem a certeza que a esperança existe,
sem se lembrar do que a vida ensina.
Anna Muller