Olho para baixo
Não vejo nada
Não porque nada se possa ver
Mas simplesmente porque os meus olhos nada captam
O meu corpo está ali
Mas estou a quilómetros de distância
Juntam-se pessoas em baixo
Não as vejo mas oiço
A ideia que me levou ali não me sai da cabeça
Avanço....Desisto
Atiro-me no vazio e acabo com esta peça
Penso
O que é que tenho
Uma mulher que me engana
Uns filhos que me ignoram
Se eu desaparecer nem sintiram a minha falta
Até já tratei do veículo que me conduzirá À minha última morada
Com medo de ficar em terra sem boleia para me levar
Pensei que fosse mais fácil
Acabar com tudo
É como o Armstrong
Um pequeno passo para mim
E se calhar um grande passo para a humanidade
Pois ver-se-ia livre de mim
Fiz uma piada
Neste momento de angústia fiz uma piada
O meu sentido de humor não me abandonou
Avanço ou recuo?
E como é que vou resolver este dilema?
As mãos estão húmidas
Os pés encharcados
Apesar de ser Dezembro estou a suar as estopinhas
Vou avançar
Estou farto
Abandono o meu apoio
Estou a voar
O chão cada vez mais perto
Fecho os olhos
Não oiço mais nada
Não vejo mais nada
Adeus
Ricardo Franco