Poemas e poesias

22
Ago 08

 


Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

 

Fernando Pessoa, 6-1-1923


 

publicado por Odracir às 17:00

21
Ago 08

 


Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho... eu sou um rei
que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mão viris e calmas entreguei;
E meu cetro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.

 

Fernando Pessoa, 1913


 

publicado por Odracir às 17:00

07
Ago 08

 


I
Vens até aqui,
e chegando te anuncias,
com tão leve rumor
que meu repouso;
não perturbas,
e é um canto milagroso,
cada uma das frases
que pronuncias...

II
E quando vens para mim,
nunca vacilas,
e ao nos olharmos,
a atração é tão forte;
que a tudo esquecemos,
a vida e a morte,
suspensas as duas
na luz de tuas pupilas...

III
E em minha vida
penetras como faz o vento
que penetra as frestas,
alma e pensamento...
Ao ser possuida por
tua beleza e tua calma,

IV
interrogo então
ao mistério de meu padecer;
se somos dois reflexos
de um mesmo ser,
a dupla encarnação
de uma mesma alma...

Maria Antonieta R. de Mattos.


 

publicado por Odracir às 09:00

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